
NÃO, NEM NO SONHO
a perfeição sonhada
Existe, pois que é sonho.
Ó Natureza,
Tão monotonamente renovada,
Que cura dás a esta tristeza?
O esquecimento temporário,
a estrada Por engano tomada,
O meditar na ponte na incerteza...
Inúteis dias que consumo lentos
Inúteis dias que consumo lentos
No esforço de pensar na ação,
Sozinho com meus frios pensamentos
Nem com uma 'sperança mão em mão.
É talvez nobre ao coração
É talvez nobre ao coração
Este vazio ser que anseia o mundo,
Este prolixo ser que anseia em vão,
Exânime e profundo
Tanta grandeza que em si mesma é morta!
Tanta grandeza que em si mesma é morta!
Tanta nobreza inútil de ânsia e dor!
Nem se ergue a mão para a fechada porta,
Nem o submisso olhar para o amor.
Fernando Pessoa