
O meu corpo executa um drama.
Anoitece.
Perde luz.
Dobram-se os joelhos
que me regem.
Deito-me de bruços.
A mão no ar
suspensa.
Sinto-me em decréscimo.
O Amor que me arruína
lavra-me de fogo.
As coisas apodrecem.
É o inferno que existe antes do Inverno.
Cascas, folhas, madeiras consumidas.
Todo o meu corpo se escurece.
A boca contra a terra ou contra Ela.
O Amor cada vez mais perplexo.
Os olhos meio abertos
por onde se escoam fumos e melancolias.
Deito-me por completo.
A cama é-me um reflexo.
Cubro-me com o lençol da terra, mudo.
O corpo faz-se ainda mais escuro.
Vermes no meio do sepulcro.
Terra, corpo onde emudeço por completo.
Por dentro a ferida
faz-se mais viva.
Pena rubra.
Ao meio, as Serpes etílicas,
quase evanescentes.
Entrego tudo.
Começam no céu a arder as estrelas.
É noite.
Ardem em lugares
cada vez mais distantes.
Levanto-me todo branco.
Os astros que brilham na noite
são o amor que solitário
o meu coração expande.
António Cândido Franco